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As quadras de
ANTÓNIO
ALEIXO
(1899 -
Vila Real de Santo António / 1949 - Loulé)
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Quando
não tenhas à mão
Outro
livro mais distinto,
Lê estes
versos que são
Filhos
das mágoas que sinto |
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Forçam-me, mesmo velhote, De vez em quando, a beijar A mão que brande o chicote Que tanto me faz penar.
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Porque o
mundo me empurrou, Caí na lama, e então Tomei-lhe a cor, mas não sou A lama que muitos são. |
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Eu não
tenho vistas largas, Nem grande sabedoria, Mas dão-me as horas amargas Lições de filosofia.
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Deixam-me sempre confuso
As tuas
palavras boas,
Por não
te ver fazer uso
Dessa
moral que apregoas. |
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São
parvos, não rias deles,
Deixa-os
ser, que não são sós;
Às vezes
rimos daqueles
Que
valem mais do que nós. |
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À guerra não ligues meia, Porque alguns grandes da terra, Vendo a guerra em terra alheia, Não querem que acabe a guerra |
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Vós que
lá do vosso império Prometeis um mundo novo, Calai-vos, que pode o povo Qu'rer um mundo novo a sério.
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Que
importa perder a vida Em luta contra a traição, Se a Razão mesmo vencida, Não deixa de ser Razão?
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P'ra
mentira ser segura E atingir profundidade, Tem que trazer à mistura Qualquer coisa de verdade.
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Sei que
pareço um ladrão... Mas há muitos que eu conheço Que, não parecendo o que são, São aquilo que eu pareço.
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Enquanto
o homem pensar Que vale mais que outro homem, São como os cães a ladrar, Não deixam comer, nem comem.
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Eu já não sei o que faça P'ra juntar algum dinheiro; Se se vendesse a desgraça Já hoje eu era banqueiro. |
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A vida na
grande terra
Corrompe
a humanidade.
Entre a
cidade e a serra
Prefiro a
serra à cidade.
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O mundo
só pode ser
Melhor
do que até aqui,
- Quando
consigas fazer
Mais
p'los outros que por ti! |
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Eu não
sei porque razão
Certos
homens, a meu ver,
Quanto
mais pequenos são
Maiores
querem parecer. |
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Bate a
fome à porta deles
E é lá
mais mal recebida
Do que na
casa daqueles
Que a
sofreram toda a vida. |
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Uma mosca
sem valor
Poisa,
c'o a mesma alegria,
Na
careca de um doutor
Como em
qualquer porcaria. |
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Para não
fazeres ofensas
E teres
dias felizes,
Não
digas tudo o que pensas,
Mas
pensa tudo o que dizes. |
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Num
arranco de loucura,
Filha
desta confusão,
Vai todo
o mundo à procura
Daquilo
que tem à mão.
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Vinho que
vai para vinagre
Não
retrocede o caminho;
Só por
obra de milagre,
Pode de
novo ser vinho. |
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Entre
leigos ou letrados,
Fala só
de vez em quando,
Que nós,
às vezes, calados,
Dizemos
mais que falando. |
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Quando te
vês mal, e dizes
Que
preferias a morte,
Pensa que
outros menos felizes
Invejam a
tua sorte.
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Mentiu
com habilidade,
Fez
quantas mentiras quis;
Agora
fala verdade
Ninguém
crê no que ele diz. |
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Vemos
gente bem vestida,
No
aspecto desassombrada;
São tudo
ilusões da vida,
Tudo é
miséria dourada |
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Tem a
música o poder
De
tornar o homem feliz;
Nem há
quem saiba dizer
Tanto
quanto ela nos diz. |
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Quando os
homens se convençam
Que a
força nada faz,
Serão
felizes os que pensam
Num
mundo de amor e paz. |
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Gosto do
preto no branco,
Como
costumam dizer:
Antes
perder por ser franco
Que ganhar por não ser.
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Não sou
esperto nem bruto,
Nem bem
nem mal educado:
Sou
simplesmente o produto
Do meio
em que fui criado. |
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Queremos
ver sempre à distância
O que
não está descoberto,
Sem
ligarmos importância
Ao que
está à vista e perto. |
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Porque
será que nós temos
Na
frente, aos montes, aos molhos,
Tantas
coisas que não vemos
Nem
mesmo perto dos olhos?
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Há
pessoas muito altas
De nome
ilustrado e sério,
Porque o
oiro tapa as faltas
Da moral
e do critério. |
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Quantas
sedas aí vão,
Quantos
colarinhos,
São
pedacinhos de pão
Roubados
aos pobrezinhos! |
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Julgam-me
mui sabedor;
E é tão
grande o meu saber
Que
desconheço o valor
Das
quadras que sei fazer. |
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Peço às
altas competências
Perdão,
porque mal sei ler, P’ra aquelas deficiências Que os meus versos possam ter. |
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Quem
nada tem, nada come; E ao pé de quem tem de comer, Se alguém disser que tem fome, Comete um crime, sem querer. |
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A quadra
tem pouco espaço Mas eu fico satisfeito Quando numa quadra faço Alguma coisa com jeito. |
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Nada
direi, mas, enfim, Vou ter a grande alegria De a Arte dizer por mim Tudo quanto eu vos diria. |
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Nos
versos que se improvisem, Os poetas sabem ler, Para além do que eles dizem, Tudo o que querem dizer. |
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Falemos
sinceramente, Como p'ra nós mesmos, a sós; Lá longe de toda a gente, Do mundo, e até de nós. |
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Após um
dia tristonho de mágoas e agonias vem outro alegre e risonho: são assim todos os dias. |
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Mentiu
com habilidade, Fez quantas mentiras quis; Agora fala verdade, Ninguém crê no que ele diz. |
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São
parvos, não rias deles, Deixa-os ser, que não são sós; Às vezes rimos daqueles
Que valem mais do que nós |
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Há luta
por mil doutrinas. Se querem que o mundo ande, Façam das mil pequeninas Uma só doutrina grande. |
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Quando os Homens se
convençam Que à força nada se faz, Serão f'lizes os que pensam Num mundo de amor e paz.
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A arte em nós se revela Sempre de forma diferente: Cai no papel ou na tela Conforme o artista sente. |
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Quem
prende a água que corre É por si próprio enganado; O ribeirinho não morre, Vai correr por outro lado. |
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Embora
os meus olhos sejam Os mais pequenos do mundo, O que importa é que eles vejam O que os Homens são no fundo. |
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Julgando um dever
cumprir, Sem descer no meu critério, - Digo verdades a rir Aos que me mentem a sério.!
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Ser
criada de um ricaço,
Desses
que temos a rodos,
É dar o
primeiro passo
P'ra ser
criada de todos. |
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Este
livro que vos deixo
E que a
minha alma ditou,
Vos dirá
como o Aleixo
Viveu,
sentiu e pensou. |
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