Entre
os muilas, predomina a poligamia, como regime matrimonial, constituindo as suas
mulheres uma fonte de riqueza, não só pelos trabalhos que fazem,
mas também, e principalmente, pelo que recebem em pagamento, dos homens que com elas praticam adultério.
Para
chegar ao casamento, o muila principia, naturalmente, pelo namoro, seguindo
neste o ritual que a seguir se transcreve: - Quando um rapaz pretende casar,
depois de ter feito a escolha da que há de vir a ser sua companheira, encarrega
uma irmã, prima ou sobrinha, de falar à rapariga pretendida, podendo, contudo,
servir-se de outra pessoa de família como intermediária, mesmo que do sexo
masculino. Obtida a concordância da rapariga, a intermediária -
ou
intermediário - vai falar
aos pais da pretendida. Se estes concordarem com o casamento, a rapariga vai
para a casa do pretendente, onde passa dois dias, dormindo com este, após o que
regressa a sua casa. Quinze dias ou um mês depois, a pretendida volta novamente à casa do pretendente, para aí
passar quatro dias, voltando a dormir com este. Contudo, tanto nas duas
primeiras noites, como nas outras quatro, pretendida e pretendente não
podem ter relações sexuais, muito embora lhes seja permitido dormir
abraçados.
Após
os quatro dias passados em casa do pretendente, a rapariga regressa a sua casa
e, seguidamente os pais ou o tio materno do rapaz, conforme este viva com os
primeiros ou com o segundo, e sem que este os acompanhe, dirigem-se à casa dos
pais da pretendida, levando uma cabaça de "macau" ou um garrafão de vinho e um pano, o que representa o
pedido de casamento 10.
Os
pais da pretendida perguntam então a esta se aceita ou não o casamento e, se
a resposta for positiva, bebem a bebida e ela recebe o pano e veste-o. No caso
da resposta ser negativa, ou se ela ainda não estiver resolvida a casar, os
seus pais bebem da mesma maneira a bebida
Aceite
o casamento, tanto pela pretendida como pelos seus pais, o rapaz, uma semana
depois do pedido, vai dormir duas ou quatro noites em casa dela. Nessa altura,
os pais ou o tio do pretendente levam aos pais da sua futura companheira os bois
que, na altura do pedido, tiver ficado estipulado entregarem, como alambamento -
"Nontunha". No dia em isto
sucede, à tarde, a noiva vai, acompanhada de uma irmã ou prima mais velha,
para casa do seu marido, levando consigo uma cabaça, uma quimbala e uma panela,
ficando assim realizado o casamento 11.
Se,
posteriormente, o casamento vier a ser desfeito e a mulher tiver outro
pretendente, este entrega ao
ex-marido, em dobro, o alambamento por este
entregue aos pais da mulher. Caso esta não volte a casar no prazo
de dois anos
- por vezes três -, o alambamento, também em dobro, é restituído ao
ex-marido pela família.
O
casamento é a maior ambição do homem, não por uma questão sentimental
mas porque a mulher é, para ele, uma fonte de riqueza. Com efeito, como
já ficou dito, a mulher representa um capital, tanto maior quanto maior for o
seu número, pelo número de braços que representa para o trabalho e,
consequentemente, uma maior abundância de mantimentos, a esperança de um
maior número de filhos que, sendo do sexo feminino, representarão mais tarde
outra boa fonte de receita com o recebimento do alambamento e, por último,
uma verdadeira mina que, bem explorada, nos
casos de adultério fará aumentar consideravelmente a sua riqueza com as "oukai"
12
que receberão então, dos amantes das suas mulheres.
A
fidelidade conjugal é, como se depreende, uma rara excepção por parte da
mulher à libertinagem geral que se verifica, sendo frequente aquela ter um ou
dois amantes certos, além dos ocasionais.
Em
geral, quando o marido descobre a infidelidade da mulher, pouco ou nada se
mostra incomodado com tal facto, desde que, naturalmente, os que com ela tiveram
relações paguem a indemnização que o adultério lhe dá o direito a
exigir, a qual consiste na entrega de um ou mais bois ou, muito raramente, de
dinheiro, o que, como se disse já, contribui para aumentar a sua fortuna. É até
frequente ser o próprio marido a facultar e a facilitar à sua mulher a prática
de adultério, de comum acordo.
Também
se verifica, embora muito raramente, o adultério praticado de comum entre
maridos e mulheres, consistindo na troca temporária de mulheres, entre
amigos, a que chamam "Oku-liyepa".
É considerada uma prova de amizade muito íntima, o marido exigir que a
mulher vá compartilhar da cama de um amigo, por alguns dias, estando este
disposto a prestar igual favor.
Pode
pois constatar-se que, no casamento e por parte dos homens, apenas existe o amor
"animal", para satisfação das suas necessidades fisiológicas e o
amor "material", pelos benefícios que a mulher, de uma maneira
geral, lhes proporciona.
É
muito limitado o poder do chefe de família, quanto aos filhos. Com efeito,
seguindo o muila o regime do matriarcado, os tios maternos mandam mais nos
sobrinhos que os próprios pais. Pode pois dizer-se, que o poder do chefe de família
se limita em mandar na mulher, nos campos de um e outro e nas alfaias e gado,
porque estas coisas, como a mulher, ela própria, foram por ele compradas.
A
mulher, por sua vez, apenas exerce influência sobre os filhos, enquanto estes
forem menores.
Para
chegar ao casamento, o muila principia, naturalmente, pelo namoro, seguindo
neste o ritual que a seguir se transcreve:
- Quando um rapaz pretende casar,
depois de ter feito a escolha da que há de vir a ser sua companheira, encarrega
uma irmã, prima ou sobrinha, de falar à rapariga pretendida, podendo, contudo,
servir-se de outra pessoa de família como intermediária, mesmo que do sexo
masculino. Obtida a concordância da rapariga, a intermediária - ou
intermediário - vai falar
aos pais da pretendida. Se estes concordarem com o casamento, a rapariga vai
para a casa do pretendente, onde passa dois dias, dormindo com este, após o que
regressa a sua casa. Quinze dias ou um mês depois, a pretendida volta
novamente à casa do pretendente, para aí
passar quatro dias, voltando a dormir com este. Contudo, tanto nas duas
primeiras noites, como nas outras quatro, pretendida e pretendente não
podem ter relações sexuais, muito embora lhes seja permitido dormir
abraçados.
Após
os quatro dias passados em casa do pretendente, a rapariga regressa a sua casa
e, seguidamente, os pais ou o tio materno do rapaz, conforme este viva com os
primeiros ou com o segundo, e sem que este os acompanhe,
dirigem-se à casa dos
pais da pretendida, levando uma cabaça de "macau" ou um garrafão de vinho e um pano, o que representa o
pedido de casamento.
Os
pais da pretendida perguntam então a esta se aceita ou não o casamento e, se
a resposta for positiva, bebem a bebida e ela recebe o pano e veste-o. No caso
da resposta ser negativa, ou se ela ainda não estiver resolvida a casar, os
seus pais bebem da mesma maneira a bebida que lhes foi levada e ela recebe o
pano, mas não o veste.
Aceite
o casamento, tanto pela pretendida como pelos seus pais, o rapaz, uma semana
depois do pedido, vai dormir duas ou quatro noites em casa dela. Nessa altura,
os pais ou o tio do pretendente levam aos pais da sua futura companheira os bois
que, na altura do pedido, tiver ficado estipulado entregarem, como alambamento -
"Nontunha". No dia em isto
sucede, à tarde, a noiva vai, acompanhada de uma irmã ou prima mais velha,
para casa do seu marido, levando consigo uma cabaça, uma quimbala e uma panela,
ficando assim realizado o casamento.
Se,
posteriormente, o casamento vier a ser desfeito e a mulher tiver outro
pretendente, este entrega ao ex-marido, em dobro, o alambamento por este
entregue aos pais da mulher. Caso esta não volte a casar no prazo de dois anos
- por vezes três -, o alambamento, também em dobro, é restituído ao
ex-marido pela família.
A
fidelidade conjugal é, como se depreende, uma rara excepção, por parte da
mulher, à libertinagem geral que se verifica, sendo frequente aquela ter um ou
dois amantes certos, além dos ocasionais.
Em
geral, quando o marido descobre a infidelidade da mulher, pouco ou nada se
mostra incomodado com tal facto, desde que, naturalmente, os que com ela tiveram
relações paguem a indemnização que o adultério lhe dá o direito a
exigir, a qual consiste na entrega de um ou mais bois ou, muito raramente, de
dinheiro, o que, como se disse já, contribui para aumentar a sua fortuna. É até
frequente ser o próprio marido a facultar e a facilitar à sua mulher a prática
de adultério, de comum acordo.
Também
se verifica, embora muito raramente, o adultério praticado de comum entre
maridos e mulheres, consistindo na troca temporária de mulheres, entre
amigos, a que chamam "Oku-liyepa".
É considerada uma prova de amizade muito íntima, o marido exigir que a
mulher vá compartilhar da cama de um amigo, por alguns dias, estando este
disposto a prestar igual favor.
Pode
pois constatar-se que, no casamento e por parte dos homens, apenas existe o amor
"animal", para satisfação das suas necessidades fisiológicas e o
amor "material", pelos benefícios que a mulher, de uma maneira
geral, lhes proporciona.
É
muito limitado o poder do chefe de família, quanto aos filhos. Com efeito,
seguindo o muila o regime do matriarcado, os tios maternos mandam mais nos
sobrinhos que os próprios pais. Pode pois dizer-se, que o poder do chefe de família
se limita em mandar na mulher, nos campos de um e outro e nas alfaias e gado,
porque estas coisas, como a mulher, ela própria, foram por ele compradas.
A
mulher, por sua vez, apenas exerce influência sobre os filhos, enquanto estes
forem menores.
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