Quando
ocorre uma morte, o cadáver é encostado aos paus da libata, sendo colocada do
outro lado uma esteira, para o resguardar, e ali fica durante pelo menos dois
dias, não se realizando o funeral sem que se reuna a família que, por vezes,
vem de longas distâncias.
Quanto
ao funeral, propriamente dito, há a considerar o dos pobres e o dos ricos;
No
dos pobres, vai o cadáver a enterrar sem qualquer cerimónia, embrulhado numa
manta e amarrado a um pau, para o poderem transportar.
No
dos ricos, e como já se referiu, o cadáver demora mais tempo a ser
enterrado, para dar tempo a que toda a família se reuna ou, pelo menos, se
reuna grande número dos seus membros. Em geral o rico, em vida, escolhe uns
bois, normalmente em número de quatro, para as cerimónias do seu funeral.
Desses quatro bois, dois são destinados à venda, para, com o seu produto,
serem compradas as bebidas, tais como vinho,
macau ou outras, e as roupas para o
enterro, um outro para ser consumido dois dias depois do funeral e o último
para aproveitarem a pele para embrulhar o cadáver, não sendo aproveitada a
carne deste.
Para
o enterro, o cadáver é embrulhado em duas mantas e três cobertores, sendo então
envolto com a pele do boi escolhido
para o efeito.
Ao
embrulharem o cadáver, os muilas deixam os pés de fora e amarram o couro do
boi por cima da cabeça, completando o embrulho com fitas extraídas de cascas
de árvores, prendendo-o então a um pau que servirá para o transportar.
Normalmente,
escolhem o trajecto para o cortejo fúnebre por forma a passar pelas casas das
pessoas de família e para as despedidas. No percurso, em geral descansam uma
vez entre a casa do morto e o cemitério, sendo nesse local que o herdeiro,
mais tarde, construirá o "Tchoto"
- coberto que serve para reuniões e fica ao centro do "eumbo" - onde se realizará a festa do "kuricutila",
que adiante se descreverá.
Durante
o percurso para o cemitério, vai um homem velho à frente dos que transportam
o cadáver, perguntando quem foi o causador da morte, indicando nomes e deitando
fora uns pós. É crença que, se o velho acertar no nome do causador da morte,
o cadáver se deslocará para a frente, impulsionando os transportadores, dos
quais o mais avançado irá embater no velho 18.
Uma
vez no cemitério, pousam o cadáver no chão e abrem a cova. Pronta esta,
retiram o pau que serviu para transportar o cadáver e cortam-no em três pedaços,
os quais são postos dentro da mesma, por forma a que um sirva de travesseiro,
ficando os outros dois um de cada lado. O cadáver é então colocado na cova, de lado e com os pés virados para nascente, após o que cada um
dos presentes lança um pouco de terra sobre ele, formulando o seu desejo, que
em geral é referente ao espírito do morto. Tapada a cova, colocam sobre a
sepultura ramos de espinheiras, para evitar que os animais carnívoros
desenterrem o cadáver.
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