VIDA FAMILIAR 


3 - PRIMEIRA INFÂNCIA / ADOLESCÊNCIA

 Durante a primeira infância não são dispensados quaisquer cuidados especiais à criança.

Por volta dos treze anos de idade, rapazes e   raparigas são submetidos à mutilação da dentadura 17, que consiste na extracção dos dois incisivos superiores e na limagem entre os dois inferiores, marcando com isto o início da adolescência.

4 - FUNERAL  

 Quando ocorre uma morte, o cadáver é encostado aos paus da libata, sendo colocada do outro lado uma esteira, para o resguardar, e ali fica durante pelo menos dois dias, não se realizando o funeral sem que se reuna a família que, por vezes, vem de longas distâncias.

Quanto ao funeral, propriamente dito, há a considerar o dos pobres e o dos ricos;

No dos pobres, vai o cadáver a enterrar sem qualquer cerimónia, embrulhado numa manta e amarrado a um pau, para o poderem transportar.

No dos ricos, e como já se referiu, o cadáver demora mais tempo a ser enterrado, para dar tempo a que toda a família se reuna ou, pelo menos, se reuna grande número dos seus membros. Em geral o rico, em vida, escolhe uns bois, normalmente em número de quatro, para as cerimónias do seu funeral. Desses quatro bois, dois são destinados à venda, para, com o seu produto, serem compradas as bebidas, tais como  vinho, macau ou outras,  e as roupas para o enterro, um outro para ser consumido dois dias depois do funeral e o último para aproveitarem a pele para embrulhar o cadáver, não sendo aproveitada a carne deste.

Para o enterro, o cadáver é embrulhado em duas mantas e três cobertores, sendo então envolto  com a pele do boi escolhido para o efeito.

Ao embrulharem o cadáver, os muilas deixam os pés de fora e amarram o couro do boi por cima da cabeça, completando o embrulho com fitas extraídas de cascas de árvores, prendendo-o então a um pau que servirá para o transportar.

Normalmente, escolhem o trajecto para o cortejo fúnebre por forma a passar pelas casas das pessoas de família e para as despedidas. No percurso, em geral descansam uma vez entre a casa do morto e o cemitério, sendo nesse local que o herdeiro, mais tarde, construirá o "Tchoto" - coberto que serve para reuniões e fica ao centro do "eumbo" - onde se realizará a festa do "kuricutila", que adiante se descreverá.

Durante o percurso para o cemitério, vai um homem velho à frente dos que transportam o cadáver, perguntando quem foi o causador da morte, indicando nomes e deitando fora uns pós. É crença que, se o velho acertar no nome do causador da morte, o cadáver se deslocará para a frente, impulsionando os transportadores, dos quais o mais avançado irá embater no velho 18.

Uma vez no cemitério, pousam o cadáver no chão e abrem a cova. Pronta esta, retiram o pau que serviu para transportar o cadáver e cortam-no em três pedaços, os quais são postos dentro da mesma, por forma a que um sirva de travesseiro, ficando os outros dois um de cada lado. O cadáver é então colocado  na cova, de lado e com os pés virados para nascente, após o que cada um dos presentes lança um pouco de terra sobre ele, formulando o seu desejo, que em geral é referente ao espírito do morto. Tapada a cova, colocam sobre a sepultura ramos de espinheiras, para evitar que os animais carnívoros desenterrem o cadáver.

5 - CULTO DOS MORTOS  

  Os Muilas têm o culto dos mortos. Têm-lhes respeito e temem as suas almas. Se, durante o funeral, o adivinhador tiver dito que a morte foi causada por feitiços, ficam com receio de que o morto volte, para fazer mal às pessoas e gados. Este um dos motivos porque promovem festas - em especial a do Kuricutila - destinadas a contentar o morto, por forma a que não volte para fazer mal, dado terem a convicção de que a alma do morto volta sempre, umas vezes para fazer bem e outras para fazer mal, acreditando que volte para fazer mal se, durante a vida, esteve doente e não foi tratado pelo Quimbanda. Para fazer bem e proteger as pessoas da família voltará se, em vida, foi bem tratado  enquanto doente. Acreditam ainda que a alma volta em bem para que façam a festa do Kuricutila e, se uma mulher que não tem filhos está doente, para que esta os possa ter, originando a celebração de uma festa, na qual o morto, através da sua alma, indica ao Quimbanda qual o tratamento a fazer.